Quando o inverno chega à Guarda e as temperaturas caem abaixo de zero, quando as ruas de Almeida se cobrem de geada e a neve volta a descer das montanhas próximas, a comunidade retorna, inevitavelmente, ao coração de uma narrativa que define a sua identidade: a Lenda de Nossa Senhora das Neves. É nesta estação de frio rigoroso, quando a Beira Alta se veste de branco, que esta história ganha ressonância não como mero acontecimento do passado, mas como um testemunho vivo de como a neve, nesta região, sempre foi portadora de significado transcendente, sinal de divindade, instrumento de salvação, marca indelével na memória coletiva.
A mais célebre lenda de Almeida relacionada com neve é, sem dúvida, a Lenda de Nossa Senhora das Neves, que remonta às Invasões Francesas de 1810 e constitui o mito fundador da principal festa do concelho.
Em agosto de 1810, durante a terceira invasão napoleónica comandada pelo marechal Massena, um exército de 16.000 soldados franceses cercou a praça-forte de Almeida. A 26 de agosto, após bombardeamento intenso com mais de 6.000 granadas, uma explosão catastrófica do paiol de pólvora arrasou grande parte da vila, destruindo o castelo e a igreja matriz e ceifando cerca de 500 vidas.
Reza a lenda que, enquanto a população tentava salvar os escombros da igreja ateando uma grande fogueira para queimar os destroços, começou a nevar inesperadamente em pleno mês de agosto, apagando as chamas. Por entre as cinzas e ruínas, os almeidenses descobriram intacta a imagem de Nossa Senhora das Neves, única sobrevivente da igreja arrasada.
É então, que, como se de um milagre se tratasse, os almeidenses veem sobressair por entre as cinzas e destroços a imagem de Nossa Senhora, única sobrevivente da arrasada igreja.
Esta imagem milagrosa encontra-se ainda hoje no altar da igreja matriz de Almeida, e todos os anos, em agosto, celebra-se a Festa de Nossa Senhora das Neves, perpetuando a memória deste acontecimento que marcou profundamente a identidade dos almeidenses.

